terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Primeiras Impressões de um Missionário Brasileiro na Alemanha.

Cheguei em Lüneburg já há 4 dias. É pouco tempo, eu sei, mas o suficiente para me surpreender. Os alemães, e a Alemanha, não são muito daquilo que nós imaginamos (‘pré-conceituamos’) deles. Por exemplo, o diretor do projeto, pastor Ulf Röder, se demostrou muito amável, compreensível e admiravelmente brincalhão.
O nosso grupo de jovens, provenientes de diferentes países (Chile, Costa Rica, Ucrânia, EUA, Peru e Colômbia) está alojado em duas casas construídas especialmente para o projeto.

Esta é a sala de jantar/estar. As casas não são muito grandes, porém muito confortáveis.

Antes de vir pra cá a pergunta que eu mais me fazia era o que eu exatamente ia fazer quando chegasse aqui. Não só a cultura alemã é bem diferente da brasileira, mas também o modo de fazer a igreja acontecer, e a maneira de evangelizar, o são.
Aqui não se pode sair de porta em porta mendigando estudos bíblicos, como muitas vezes fazemos no Brasil. Muito longe disso. Nos foram entregues uns livretos, cujas páginas são destacáveis, e cada uma oferece um “produto” da igreja - cursos para fumantes, alcoólatras, problemas de relacionamento, depressão, estudos bíblicos e etc.


Eles devem ser apenas entregues nas caixas de correio das casas e prédios - não há nenhum contato/proposta pessoal (imagino como ficariam os ‘colportores de sucesso’ por aqui). E mesmo assim, há algumas poucas caixas que dizem “Bitte, keine Reklamen”, ou seja. ”por favor, nenhuma propaganda”. Nestas, pela boa educação, não devemos inserir o livreto.
Se acontecer de a pessoa se interessar por alguma das propostas que leu (isto *se* chegar a ler), ela deve então preencher o verso, destacar a página, e enviá-la por correio, como um cartão postal.

Todos os dias, enchemos nossas mochilas com esses livretos e saímos a distribuí-los pelos bairros. Como faz muito frio nesta época, sempre super agasalhados.

Definitivamente não é uma técnica de evangelismo tão agressiva - e às vezes incômoda - quanto à que usamos no Brasil, onde há alguns que não abandonam uma casa enquanto não conseguirem um estudo bíblico, ou uma venda. Muito pelo contrário, é um método frio e impessoal, totalmente contrário àquele proposto por Cristo e o Evangelho.

Enquanto ainda estou limitado pela língua (não sei necas de alemão), tudo o que posso fazer é observar, tentar entender a cultura e o modo de pensar. Contudo tenho a forte convicção de que não foi simplesmente para isso que fui enviado para cá.

Venho de um país onde a igreja adventista tem ardente tradição evangelística, para um lugar onde ao invés de crescer, ela está perdendo seus números, conforme os membros vão envelhecendo e morrendo, quase que incapazes de trazer novos conversos.

Assim, volta à baia o épico conflito da dualidade: de dois extremos, qual é o ponto de equilíbrio? As perguntas que permanecem: até que ponto tenho que adaptar a minha concepção brasileira de igreja/evangelismo para encaixar-me nesta tão diferente? O que devo e o que não devo fazer? O que posso aprender, e o que posso ensinar?

Quando criança, aprendi nos desbravadores que deveria “ir aonde Deus mandar” para então “cumprir a parte que me corresponde”. Essa ‘parte’ é dever de todos descobrir: o que nos cumpre fazer de nossas vidas, o que Deus quer de nós?
Autor: Paulo Henrique Steiner Dorta